quarta-feira, 12 de abril de 2017

O DILÚVIO


Crise mundial nos dias de Noé


O pecado traz consequências naturais e castigos divinos. Foi assim na época de Noé. A depravação humana provocou a ira divina que se derramou como água sobre a terra. Foi uma crise de grandes proporções causada pelo pecado, mas realizada por Deus.

Noé foi avisado, mas o que ele poderia fazer? Orar para que o dilúvio fosse cancelado? Expulsar os demónios das tempestades? Não era o caso. Há tempo de orar, tempo de expulsar o mal, mas precisamos reconhecer que algumas crises são determinadas por Deus e só terminam quando o seu propósito estiver concluído. O dilúvio seria um meio necessário para a purificação da terra. Crises podem ser purificadoras. Podemos ser melhores depois que elas passarem. É o que acontece nos processos de limpeza, reforma e restauração.

Noé não poderia impedir o dilúvio, mas preparar-se. Sendo um servo de Deus, o seu modo de vida era uma preparação constante para tudo o que o futuro lhe trouxesse. Ele vivia sintonizado com o céu. Noé andava com Deus (Génesis 6.9). Então, o mal não lhe surpreenderia. Noé ouviu a perfeita previsão do tempo: “Vai chover, e muito”. Quem não estava ligado em Deus, seria candidato à destruição.

O dilúvio veio para destruir os pecadores e Noé era um deles. Por quê então ele escapou? Por causa da sua fé e obediência, pelas quais alcançou a graça e a misericórdia de Deus.
Temos nesta história três elementos importantes: o saber, o crer e o obedecer. Noé sabia que o dilúvio viria. É possível que milhares de pessoas também tenham tomado conhecimento. Entretanto, Noé cria Nele e enquanto muitos eram incrédulos. A fé, porém, não é um fim em si mesma. Crer sem obedecer é como receber uma prescrição médica, acreditar nela, mas não a cumprir. Não terá qualquer valor. Noé obedeceu a Deus ao construir a arca. Seria uma realização difícil. Geralmente estamos dispostos a fazer apenas o que é fácil.

O dilúvio foi uma grande tribulação para Noé, mas para os ímpios foi a destruição total. Eis a diferença entre quem serve a Deus e quem não serve. Da mesma forma, passamos por crises, mas não somos destruídos por elas. O dilúvio trouxe muito trabalho e transtorno para Noé. Ele não ficou indiferente ao cataclismo mundial. Ele não poderia dizer: “Ficarei em casa a orar até que o dilúvio passe”.

Construir aquele barco gigantesco daria muito trabalho, mas Noé deveria fazê-lo. Deus não construiria a arca. Podemos orar, mas precisamos trabalhar. Deus não fará tudo por nós, mas nos dará instrução e sabedoria. Devemos trabalhar antes, durante e após as crises, a fazer o que estiver ao nosso alcance para superá-las.

Entrar na arca com a sua família foi também um facto fundamental na história de Noé. Tudo o que aconteceu antes foi uma preparação, mas entrar na arca foi a decisão final, com todas as suas implicações. Era sobretudo, mais um acto de fé. Ainda não estava a chover, mas Deus mandou entrar na arca. Não fazia sentido. Talvez tenha sido um espectáculo para o povo (no sentido pejorativo). Assim são as nossas atitudes, decisões e acções em obediência ao Senhor, embora a realidade pareça contrária. Não adianta viver a preparar, mas não entrar, viver a começar, mas não acabar. (Viver a namorar, mas não casar).

Entrar na arca seria a salvação de Noé, mas representava também renúncia e perda. Não era possível levar a bordo todos os pertences, a casa, todos os parentes e amigos. Aliás, algumas amizades encerravam-se com o fechar da porta. As nossas decisões em obediência a Deus exigem renúncia e aparente perda. Entretanto, depois do dilúvio, Noé teria toda a terra à sua disposição.

As águas subiram e a arca subiu também. Noé e a sua família ficaram protegidos. O Senhor guarda os que são seus, mas a condição para isso é a obediência.

Noé ficou dentro da arca durante 1 ano (Génesis 7.11; 8.13). A sua salvação e da sua família dependeriam também de paciência e perseverança. Eles não podiam sair do lugar onde Deus mandou que ficassem, mas, ao mesmo tempo, a embarcação era dirigida por Deus para o local onde deveria pousar. Nós também precisamos permanecer na igreja, no lar, onde o Senhor nos colocou.

Deus falava com Noé, mas nem tudo lhe foi dito. Noé não sabia quanto tempo duraria o dilúvio ou o local onde a arca iria parar. Nessas questões, ele deveria apenas descansar, ao confiar na fidelidade e no amor de Deus. Há tantas coisas que não sabemos, mas devemos confiar em Deus e no seu cuidado para connosco.

Estar na arca não devia ser algo muito confortável, com todos aqueles animais e barulho e, eventualmente, mau cheiro, mas lá fora seria pior. O impaciente poderia dizer que aquele lugar era uma prisão, que a sua liberdade estava a ser tirada, mas existe o tempo certo de ir além.

Noé precisou esperar muito. A história do dilúvio em Génesis (6 a 8) está repleta de informações relativas ao tempo. Vemos ali o cronograma de Deus e não do homem. Não foi Noé quem determinou datas e horários, mas Deus. Ele está no controle. A nossa tribulação não durará nem um dia além do prazo determinado pelo Senhor, desde que estejamos a cumprir a nossa parte.

Noé soltou o corvo e a pomba como tentativas de obter alguma informação por meios naturais (Génesis 8.6, 8, 12). Ele queria situar-se, orientar-se, mas aquelas acções não lhe serviram como subsídio para as suas decisões. Finalmente veio a ele a palavra do Senhor dizendo: “Noé, saí da arca” (Génesis 8.15). Queremos dominar e interferir em muitas situações, mas devemos reconhecer que o Senhor está no controle. Oremos para que ele nos oriente.

Quando a água baixou, a arca pousou sobre uma montanha. Provavelmente, durante a sua construção, os que assistiam devem ter perguntado onde Noé conseguiria água para navegar. A arca não apenas navegou, mas foi para em cima do monte. Deus faz muito mais do que pedimos ou pensamos. Ele ultrapassa todos os limites da nossa imaginação, ao poder-nos colocar em lugares altos, conforme o seu eterno propósito.

A família de Noé foi salva porque, em primeiro lugar, ele era um servo de Deus. Se formos fiéis ao Senhor, seremos motivo de bênçãos para os nossos familiares, embora cada um também precise ter a sua experiência com Deus.

A família é uma das prioridades do cristão. Devemos tomar cuidado com empreendimentos que possam destruir a família, o casamento e os filhos.

Noé ficou marcado na Bíblia pelas suas virtudes, embora não fosse infalível. Com ele aprendemos sobre fé, justiça, obediência e paciência. É com virtude e trabalho que se vence a crise. Nós venceremos da mesma forma, em nome de Jesus, com a ajuda de Deus.

Depois do dilúvio, o Senhor fez uma aliança com Noé. Por quê não fez antes? Porque Noé precisava passar pelo dilúvio e ser aprovado naquela crise. Começaria então uma nova vida. Nós estamos a passar por uma crise? Não nos vamos desesperar. Vamos confiar em Deus. Depois da chuva, viveremos um novo tempo na presença do Senhor.


Marcas do Dilúvio - I



A vida na Terra deve ter sido muito difícil para Adão e os seus primeiros descendentes. Ela estava cheia de iniquidade, morte e tentação. Então Deus falou a Noé que ele deveria construir uma arca para salvar o salvar e à sua família da destruição do dilúvio.
Esta fantástica história tem raízes em todo o lugar, mas principalmente na Mesopotâmia, já que a Bíblia fala que o Éden ficava por ali, pois Génesis 2:14 faz menção da localização do Éden e diz que saía um rio do mesmo e este dividia-se em quatro braços: Pisom, Giom (ambos ainda não encontrados até hoje), Tigre e o Eufrates, que hoje localizam-se no Iraque, e que antigamente era a Mesopotâmia, tanto que o nome Mesopotâmia, a junção de meso+potamos, significa “entre rios”, entre os rios Tigre e Eufrates.

Em várias partes da Mesopotâmia, encontram-se diferentes histórias, do mesmo tema, o dilúvio. Segundo o Doutor e Pastor Rodrigo Silva, no seu livro Escavando a verdade, ele diz que é uma “mesma lógica usada em relação à historicidade de Adão, ou seja, que esses documentos reflectem um episódio que realmente ocorreu no passado da humanidade.” Werner Keller tem a certeza e fala no seu livro “E a Bíblia Tinha Razão” que não é só na Mesopotâmia que encontramos relatos do dilúvio, na Grécia, Austrália, Índia, Polinésia, Tibete, Caxemira, e em muitas outras civilizações. Serão todas mitos, lendas, produtos da imaginação? É bem provável que elas reflictam a mesma catástrofe universal.

Uma das descobertas arqueológicas que podem comprovar o dilúvio foi descoberta por um arqueólogo britânico chamado Leonard Woolley, num sítio de Ur. Ele estava à procura de túmulos reais, quando resolveu cavar cinco metros a mais, abaixo de um pavimento de tijolos e encontraram uma camada de limo do dilúvio (limo é uma espécie de lodo/lama). Escavaram e descobriram restos de uma antiga Ur que existiu antes do dilúvio. Retiraram do solo cacos de jarros de barro que eles podiam datar com segurança, 2700 a.C.
Por meios de sondagens pode-se estabelecer a extensão total da enorme inundação. Ela cobriu, ao nordeste do golfo pérsico, uma extensão total de 630 km de comprimento por 165 km de largura. Visto nos mapas actuais, foi apenas um acontecimento local, mas para a época, aquele era todo o seu mundo. E, pela idade das camadas pode-se calcular uma estimativa para este acontecimento. Ocorreu por volta de 4000 a.C. segundo Werner Keller.

Num dos seus artigos, Luiz Gustavo de Assis diz que “a semelhança dos muitos relatos sobre o dilúvio ao redor do mundo com a versão bíblica é impressionante. Em ambos os relatos os personagens principais são avisados por uma divindade que uma grande destruição estava prestes a vir e que um barco deveria ser construído para a sua protecção. Esse facto revela que os judeus não inventaram tais histórias. Embora as partes da biblioteca real sejam do sétimo século a.C., o texto é muito antigo. Alguns sugerem que os escritores hebreus simplesmente copiaram estas histórias e as baptizaram com uma roupagem monoteísta. Todavia, a presença de narrativas semelhantes a estas em culturas tão diversas ao redor do mundo, nos sugerem que o mesmo evento foi a fonte para tais relatos (vejamos mais no artigo “Escavando a Verdade”). Ele também cita que “por vários anos, acreditou-se que as histórias da criação e do dilúvio universal eram lendas apenas dos judeus. Porém, escavações nas ruínas de Nínive, antiga capital do Império Assírio, apresentaram ao mundo os documentos da biblioteca real de Assurbanipal II, que viveu no sétimo século a.C. Duas epopeias importantes na literatura do Antigo Oriente Médio foram encontradas nos seus registos. São elas: Enuma Elish, um relato sobre a criação, e Gilgamesh, uma versão do dilúvio.”

É interessante notar, como as pesquisas tem comprovado o dilúvio. No livro História da Vida, nas páginas 144, 145 e 146, o jornalista Michelson Borges faz menção do avistamento do que sobrou da arca no monte Ararat (Turquia) por aviadores russos em 1917. Essa notícia foi publicada pelos principais jornais do mundo em 1923. As descobertas foram entregues ao Czar. Mas dias depois do czar ter recebido os relatórios e as fotos, o governo russo foi derrubado pela Revolução Bolchevista. Em 1883, o governo turco enviou uma expedição ao monte para vistoriar os danos causados por um terramoto. O grupo relatou a descoberta da parte frontal de uma barca antiga a 4.200 metros, na montanha. Tiraram medidas, entraram na arca e relataram ter visto estábulos e jaulas na embarcação, mas não houve muita repercussão na época devido ao sucesso da teoria evolucionista de Darwin.

Finalizamos este texto com a declaração de um geólogo adventista, relatada no livro História da Vida, de Michelson Borges: “Provavelmente, a maior descoberta arqueológica de todos os tempos – a arca de Noé – esteja a ser preservada providencialmente para, no momento certo, ser revelada ao mundo, como um monumento, a prestar silenciosamente a sua homenagem ao Criador e Mantenedor da vida, o mesmo Deus que amorosamente deseja implantar no nosso ser a Sua própria imagem, para que possamos habitar eternamente na Sua companhia, no Novo Céu e na Nova Terra, finalmente restaurados.” [Dr. Nahor Neves Souza].

Wesley Alfredo G. de Arruda é um estudante fascinado por Arqueologia e também pela Bíblia. Visitou diversos sítios arqueológicos no mundo como na Jordânia (Numeira e Bab Edh-ra) e no Egipto (Saqqara, Giza). Também foi colaborador de um projeto de pesquisa israelense, o Temple Mount Sifting Project, localizado em Jerusalém.


Marcas do Dilúvio - II


Para continuar o artigo anterior Marcas do Dilúvio – I gostaria de, nesse artigo tirar as dúvidas de muitos que acreditam que o dilúvio foi um acontecimento local como até eu mesmo sugeri no primeiro artigo da série “Marcas do Dilúvio”, e também deduzir: Existem relatos não Bíblicos do Dilúvio? E se existe não seria o relato diluviano do Génesis apenas um plágio do que outros escreveram? Tentarei explicar de forma mais clara e precisa tudo isso e muito mais neste segundo artigo.

Dilúvio: Acontecimento Local?

No livro cujo nome é “Origins”, de Ariel A. Roth, existia um trecho a falar sobre o dilúvio que é capaz de nos deixar boquiabertos. O texto fala sobre a possibilidade do dilúvio ter sido um facto local, como até havia sugerido no primeiro artigo da série Marcas do Dilúvio. Mas como o texto dizia que “se o dilúvio fosse realmente um facto local, poderíamos com certeza dizer que Deus não existe, pois dilúvios locais são realmente comuns em diversas partes do mundo, então se ele disse que não mandaria outro dilúvio, ele seria um grande mentiroso.”

Relatos não Bíblicos sobre o Dilúvio?

A mais antiga versão do Dilúvio que conhecemos vem de uma parte bastante danificada que conta a história de um certo herói chamado Ziusudra. Infelizmente mais de 80% do texto encontra-se perdido e, como resultado, a maior parte da história é obscura e difícil de ser resgatada. Apenas umas poucas passagens podem ser lidas com certo grau de certeza e, pelo que sabemos, trata-se do relato de uma imensa inundação que há tempos abateu sobre o planeta Terra, mas Ziusudra conseguiu sobreviver a ela.

Outras versões, no entanto, estão bem mais preservadas que esse épico e o seu achado ajudou bastante na reconstrução dos antigos relatos sumeríanos acerca do Dilúvio. O mais completo e bem conhecido é o “épico de Gilgamesh”. Ele foi encontrado por Hormuzd Rassam que substituiu o pioneiro Henry Layard nas escavações de Nínive, em 1852.

Após dois anos de árduo trabalho desenterrando os alicerces do palácio de Assurbanipal, Rassam foi recompensado com o achado da biblioteca real, a qual continha mais de 30 mil partes de argila reunindo o conhecimento milenar de povos do Tigre e Eufrates. Embora os documentos fossem datados do 7º século a.C. ficou claro que muitos deles (inclusive o épico de Gilgamesh) eram cópias de materiais muito mais antigos que remontavam a uma tradição do segundo milénio antes de Cristo.

Mas como saber que o Dilúvio não é uma cópia destes e muitos outros relatos de um dilúvio universal não Bíblicos?

A história é longa e o que nos interessa está na parte n.º 11 da colecção. Ela diz que Gilgamesh tinha um amigo chamado Utnapishtim que ganhara a imortalidade e, semelhante ao Noé bíblico, conseguiu sobreviver às águas do Dilúvio. Ele havia sido previamente avisado pelo deus Ea (senhor das águas e criador da humanidade) que uma imensa inundação se abateria sobre os homens. Assim, caso quisesse se salvar, Utnapishtim deveria construir uma embarcação de madeira e piche, capaz de carregar a semente da vida de cada espécie.

Finalmente, o barco ficou pronto e Utnapishtim, munido de todos os seus tesouros, entrou a bordo do barco com a sua família, os seus artesãos e os animais que havia recolhido. Então fechou a porta e aguardou. Finalmente, uma torrencial tempestade caiu sobre a Terra durando seis dias sem parar. O desastre foi tão imenso que até os deuses ficaram assustados e fugiram para os lugares mais altos dos céus que ficavam na montanha celeste de Anu. Eles se encolhiam como cães assustados.

No sétimo dia após o início da tempestade, o barco encalhou no topo do monte Nissir (no Curdistão) e ali permaneceu por mais seis dias. No sétimo dia, Utnapishtim solta uma pomba para ver se as águas haviam baixado, mas ela retornou, pois não havia encontrado terra firme.

Seguro de que as águas haviam baixado, Utnapishtim saiu da arca com os animais e os seus companheiros e, imediatamente, ofereceu um cordeiro aos deuses que respiraram a fumaça do sacrifício e mostraram-se satisfeitos.

Como podemos perceber, existe um facto que passa despercebido: O épico é puramente politeísta enquanto o relato Bíblico é totalmente monoteísta, portanto o que podemos supor é que o relato Bíblico do Dilúvio não é uma cópia, e sim uma correcção destes muitos relatos fora da Bíblia que falam de um dilúvio universal.


Marcas do Dilúvio - III


Vamos dar continuidade ao nosso estudos sobre a veracidade ou não de um Dilúvio Universal conforme é relatado na Bíblia.


COMPARANDO OS NOMES

Mais interessante que a comparação dos números é a equiparação fonética entre os patriarcas bíblicos e os nomes que aparecem nas listagens mesopotâmicas. Vamos nos referenciar em duas listas (uma cuneiforme e outra de Beroso) e compará-las com o texto Bíblico. A correspondência genealógica entre elas não será, é claro, absolutamente exacta. Pois, a semelhança entre alguns nomes é incrível!

Antes, porém, é importante mencionar que os nomes próprios geralmente provêm de raízes etimológicas que são adaptadas a um idioma derivado ou a um acento regional que os modifica. O nome Jesus que na região sul é pronunciado com um “e” mais fechado torna-se, no nordeste Jésus (com ênfase no “e” bem mais aberto). Os americanos já pronunciam de maneira ainda mais diferenciada. Eles dizem algo como Jzeezâz com um alongamento do “e” e uma típica marcação da última vogal “u” pronunciada como se fosse um “a”. Mas, em qualquer um desses três casos, a grafia permaneceu inalterada. Todos escrevem “Jesus”.

Noutros casos, a adaptação do nome pode propor uma variação maior de letras ou de formato. Temos como exemplo o nome brasileiro “Vagner” que é uma pequena alteração – apenas na letra “V” – do alemão “Wagner” que quer dizer “construtor de vagões”. Para os ingleses a alteração foi um pouco maior, “Waggoner”, embora a base fonética tenha permanecido a mesma.

Nas línguas antigas o fenómeno linguístico era o mesmo. O deus-sol, por exemplo, recebia no antigo tronco semita o nome de Shamash. Mas o acentuado sotaque hebraico fez com que o Antigo Testamento o vertesse para Shemesh como podemos encontrar em Jeremias 43:13. No idioma ugarítico a mudança foi ainda maior, que a sua vocalização passou a ser Shapsh. Isso esclarece a afirmação de que Adam e Adapa podem ser variações do nome de Adão.

Munidos destas informações vejamos o paralelismo linguístico entre as listagens sumeriana, de Beroso e da Bíblia:


É claro que, como já foi dito, nem todos os nomes de patriarcas bíblicos possuem uma correspondência clara para longe de qualquer questionamento. Mesmo os especialistas mais renomeados debatem entre si quanto à grafia e a correlação exacta entre alguns nomes. Para alguns, Alarapus teria se corrompido e transformado em Abel. Para outros, seria um correspondente de Sete ou até mesmo Adão.

Porém a respeito de algumas divergências, é reconhecido no mundo académico que alguns pares de nomes possuem uma correspondência muito interessante que não pode ser ignorada, vejamos alguns casos:

1. AMELON, o terceiro nome que da lista de Beroso, é claramente derivado de Enmenluanna – coincidentemente, o terceiro também da lista cuneiforme. Ambas as formas parecem vir da raiz amelu, que significa “homem” em acadiano. Ora, na lista genealógica de Adão (Génesis 5:6) o terceiro nome que aparece é o de Enos (no hebraico enosh), que também significa “homem”.

2. AMMENON, que não parece possuir correspondente na lista cuneiforme, vem provavelmente do acadiano ummanu que quer dizer “artífice”. Cainan (cuja abreviatura seria Caim) também significa “artífice” ou “aquele que trabalha com metais” – uma óbvia relação temática com o acadiano. Quanto à falta de correspondente entre esse termo e a lista cuneiforme, devemos nos lembrar que a genealogia de Cristo apresentada por Lucas também acrescenta nomes que não aparecem em Génesis 5 ou 1 Crónicas 1:1-4. Abreviações e omissões voluntárias de alguns nomes não são impossíveis de ocorrer no trabalho do escriba.




Onde ela está?

Faze para ti uma arca de madeira de gofer: farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora.
Desta maneira a farás: o comprimento da arca será de trezentos côvados [133 ou 155 metros], a sua largura de cinquenta [22 ou 26 metros] e a sua altura de trinta [13 ou 15 metros].
Farás na arca uma janela e lhe darás um côvado [cerca de 50 centímetros] de altura; e a porta da arca porás no seu lado; fá-la-ás com andares, baixo, segundo e terceiro.” Génesis 6.14-16.

A variação dos tamanhos deve-se ao facto de não se saber se a medida era em côvado mesopotâmico ou egípcio (da época de Moisés). De qualquer modo, 1 côvado corresponde a distância entre o cotovelo e a ponta do dedo médio.

No sétimo mês, no dia dezassete do mês, repousou a arca sobre os montes de Ararat. E as águas foram minguando até o décimo mês; no décimo mês, no primeiro dia do mês, apareceram os cumes dos montes.” Génesis 8.4-5.

O relato bíblico original descreve que a arca repousou sobre as “montanhas de RRT”, que em hebraico é o antigo reino de Urartu (leste da actual Turquia e norte do Irão), região da antiga Arménia, mais tarde traduzido para Ararat como é conhecido até hoje. Como este nome foi herdado do antigo reino, não se pode afirmar com certeza que “montanhas de RRT” sejam a cadeia formada pelos dois montes que formam o Ararat, pois a região é recheada de montanhas altas. Aliás, o nome Ararat foi atribuído no ano de 1105.


Muitos têm ido ao famoso monte mas nada encontram além de uma grande rocha coberta pela neve que acreditam ser a arca fossilizada. Arqueólogos e aventureiros fazem excursões ao Ararat nos meses de Agosto e Setembro (época de verão na Turquia), quando a neve derrete, na esperança de colherem dados sobre o objecto com fotos e filmagens.



Uma outra história surgiu a partir de uma foto aérea em 1959, onde mostra uma formação rochosa em formato de navio, levando o governo da Turquia a aceitá-la como a verdadeira Arca estabelecendo em 20/6/1987 o Parque Nacional da Arca de Noé.

Graciosos detalhes da arca de Noé


Vamos fazer um passeio pelos dias de Noé? A Bíblia diz-nos que aquela foi uma época de corrupção, onde os homens não ouviam e obedeciam a Deus, antes estavam sem lei nos seus corações, a praticar maldades. Apenas Noé e a sua família agradou ao Senhor, pelo que foram salvos do dilúvio que haveria de vir. Por toda essa descrição, creio que não precisaremos voltar no tempo ou considerar a narração de Génesis para conhecer “os dias de Noé”. Eis-nos aqui a viver tempos difíceis e igualmente assombrosos em corrupção. Só não haverá mais dilúvios sobre a terra, essa é uma promessa nascida da aliança entre Deus e Noé (Génesis 9:11-13).

Mas o que nós diríamos se descobríssemos haver uma Arca e um Noé nos dias actuais, a convidar pessoas para serem salvas da destruição? Nós iríamos até lá ou ignoraríamos o convite? Nos dias de Noé, haviam multidões na terra, apenas oito pessoas acreditaram na Salvação apregoada antes do dilúvio (1Pedro 3.20). Esse assunto pode não ser novidade, afinal até as crianças conhecem a história da arca. De Noé até nós, de convite em convite, vamos molhando os pés na água a caminho da arca que nos espera. Ela ficou fabulosa, segura, perfeita, cem anos de trabalho com a madeira e outros instrumentos, foi preciso paciência, dedicação e fé.

Não sei se já reparamos em alguns detalhes graciosos da arca feita por Noé, acredito que eles dizem do amor de Deus para connosco: a janela no andar de cima, a porta única e o betume que revestiu a madeira da arca, por dentro e por fora, tudo é tão harmonioso! “Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume. E desta maneira a farás: De trezentos côvados o comprimento da arca, e de cinquenta côvados a sua largura, e de trinta côvados a sua altura. Farás na arca uma janela, e de um côvado a acabarás em cima; e a porta da arca porás ao seu lado; far-lhe-ás andares, baixo, segundo e terceiro.” Génesis 6:14-16.


A Janela

A Arca tinha 438 metros de comprimento, 73 pés de largura e 44 pés de altura. Há estimativas de que o volume da arca tinha capacidade para abrigar cerca de 125 mil ovelhas de grande porte. Era um lugar espaçoso, onde toda a comunicação com o exterior acontecia via janela do tamanho de um côvado, ou seja, do braço de um homem. Foi por essa janela que Noé soltou o corvo e a pomba para verificar se as águas haviam escoado completamente da superfície terrestre. Uma janela no alto da arca, ao abri-la podia ver-se o céu apenas, dia e noite. Mesmo quando ela permanecia fechada, de dentro da arca, tinha-se a certeza de que ela era um referencial sobre o tempo e a direcção. O braço de Noé na janela dava conta das condições climáticas, porém e devido às limitações, ele dependia do abrir da porta para sair, e esse acontecimento, dependia do certificado do tempo, vindo da janela.

E aconteceu que ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela da arca que tinha feito. E soltou uma pomba, para ver se as águas tinham minguado de sobre a face da terra. A pomba, porém, não achou repouso para a planta do seu pé, e voltou a ele para a arca; porque as águas estavam sobre a face de toda a terra; e ele estendeu a sua mão, e tomou-a, e recolheu-a consigo na arca. E esperou ainda outros sete dias, e tornou a enviar a pomba fora da arca. E a pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico; e conheceu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra. Génesis 8:6-11.


A porta e a janela

Então, depois que todos entraram na arca, o Senhor fechou a porta for fora” Génesis 7:16

Que verso fantástico! A arca estava sob os cuidados de Deus, Ele guardava a todos para que nada de mal lhes acontecesse durante a inundação. E se Deus fechou a porta por fora e os únicos sobreviventes estavam do lado de dentro, somente Ele poderia abrir! Aquilo que cabe ao homem agir, Deus dá liberdade para que o faça. A Noé coube colocar o braço diversas vezes fora da janela para observar o tempo, coube olhar para o céu em oração, em gratidão, em louvor. Mas, somente Deus poderia abrir e fechar a Arca. Ele não disse a Noé: “Acabou o temporal, a terra está seca, podem sair. Não, Ele atribuiu a Noé e à sua família a ação de olhar constantemente pela janela e perceber o mundo através dela.

Então falou Deus a Noé dizendo: Sai da arca, tu com tua mulher, e teus filhos e as mulheres de teus filhos. Todo o animal que está contigo, de toda a carne, de ave, e de gado, e de todo o réptil que se arrasta sobre a terra, traze fora contigo; e povoem abundantemente a terra e frutifiquem, e se multipliquem sobre a terra. Então saiu Noé, e seus filhos, e sua mulher, e as mulheres de seus filhos com ele.” Génesis 8:15-18.

Podemos perceber algo aqui? Por que Deus deixou que Noé colocasse o braço fora da janela para enviar corvos e pombas para ver o tempo, se Ele poderia simplesmente dizer: “Não sai agora Noé, ainda tem água, fica quietinho, quando tudo tiver seco, falo contigo, abro a porta?!” Ora, eis uma lição sobre não espiritualizar todos os factos da nossa vida. Deus deu-nos liberdade para escolher, Ele nos concede uma vida quotidiana, temos nomes e sobrenomes, preferências, profissões, amigos. Ser um salvo, filho de Deus, não implica ter “poderes sobrenaturais”, implica viver com Cristo, a atravessar dilúvios, inclusive, mas não abandonando a fé, a visão do céu que chega pela janela. Aquilo que está ao nosso alcance fazer, façamos. Não esperemos que Deus faça por nós o que Ele nos deu capacidade e direcção para fazer.


O betume

Então disse Deus a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra. Faze para ti uma arca da madeira de gofer; farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume.” Génesis 6.13-14.

Betumar no hebraico do Antigo Testamento significa “cobrir, proteger” é a mesma palavra usada quando se refere a “expiação, perdão, reconciliação” – “kaphar” (Êxodo 29:36). Assim, podemos comparar o acto de betumar a arca com o de expiar, proteger, cobrir. Na arca, Noé e a sua família estavam a receber tudo isso de Deus. Sobre essas coisas, também se fala de Jesus Cristo: “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.” Efésios 1:13-14.

Uma arca betumada é como um homem selado com o Espírito Santo de Deus, protegido pelo sangue de Jesus Cristo.

E a arca andava sobre as águas do dilúvio e as águas, não prevaleciam contra ela” Génesis 7:18.


Outras considerações:

Noé foi um mensageiro das Boas Novas do Reino de Deus para a sua época e também para as gerações futuras. O seu nome significa “descanso” um nome dado por profecia dos seus pais: “Deu-lhe o nome de Noé e disse: “Ele nos aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de nossas mãos, causados pela terra que o Senhor amaldiçoou”. Génesis 5:29. Educado segundo os princípios de Deus com o objectivo de proporcionar descanso à família, cumpre a sua missão ao crescer em obediência e fé para com Deus.

Noé trabalhou 100 anos na construção da arca e não é dito que tenha contratado muitos servos ou ficado aborrecido com Deus pela descrença das pessoas e demora da conclusão da obra. Porém, todos os méritos que porventura venham a ser dados a Noé, não provêm das suas obras, mas da fé num Deus que honra a Sua Palavra e o relacionamento para com os que Nele confiam. Os graciosos detalhes da arca, revelam a Sua soberania em relação ao tempo e aos acontecimentos do planeta, revelam ainda a necessidade humana de arrependimento e reconhecimento da insuficiência das obras para salvação da vida.

A janela com abertura para o céu, na medida de um braço humano está a dizer que o Socorro é presente e real e temos que busca-Lo constantemente. A janela é o homem limitado que batalha dia após dia para ser feliz, para repousar em lugares tranquilos. A porta, fechada por fora significa que somente Deus conhece o princípio e o fim de todas as coisas e com Ele está a Salvação, o perdão e a redenção. Mãos humanas são suficientes para construir riquezas e refúgios terrenos, mas insuficientes para mantê-los, insuficientes para salvar:

E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” Lucas 12:18-21.


Assim como a Arca foi para Noé e para a sua família, Jesus é para a humanidade, esse lugar de descanso e salvação. A única Porta de acesso ao céu e somente Deus tem a chave: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens”. João 10:9.

A ARCA DE NOÉ


INTRODUÇÃO

Enoque, por haver andado com Deus, havia sido trasladado para o céu antes que a maldade humana chegasse ao auge e Deus tivesse que desencadear o julgamento por meio do dilúvio. A mistura dos filhos de Deus com os filhos dos homens havia gerado gigantes, valentes e varões de fama (falado anteriormente), mas Deus viu que “a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Génesis 6.5).


I. A MALDADE HUMANA E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS

A condição do homem perante Deus era só má continuamente, e isso em virtude da mistura da semente santa com a impura, que resultou nas piores consequências. O alvo de Satanás continua o mesmo: misturar para corromper. Por isso pergunta o apóstolo: “Que comunhão tem a luz com as trevas?” (2Co 6.14).

1) A sentença divina (v.7). O Senhor arrependeu-se de “haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração” (v.6). O arrependimento de Deus e a sua tristeza, embora admitidos como a transferência de atributos humanos para a divindade, expressam realmente uma experiência real de Deus, que teve de mudar de atitude em relação ao homem que criara.

Nada menos do que o fim de toda a carne produziria efeito. Os valentes e os varões de fama tinham de ser igualmente varridos da face da terra. Tinha de haver completa destruição de tudo o que havia sido corrompido.

2) Tal como nos dias de Noé. Tal como ocorre nos nossos dias, também na época de Noé a mensagem do iminente juízo divino não encontrou aceitação por parte das classes brilhantes dos políticos, dos artistas, dos intelectuais, dos “valentes” e dos “varões de fama”. A lavoura, a pecuária, a ciência, as artes e talvez a própria religião, tudo parecia indicar que o “modus vivendi” prosseguiria inalterável. Os cidadãos continuariam a comer, a beber, a casar-se e a dar-se em casamento. Falar em juízo divino era uma loucura.


II. O JUIZO DE DEUS

1. Deus anuncia o dilúvio a Noé (Génesis 6.13). A Bíblia afirma que Noé era homem justo e recto, e que andava com Deus. Isso não significa que ele era sem pecado, pois todos pecaram (Romanos 3.23), mas que ele prezava a rectidão e a integridade, e que confiava em Deus. Por isso Deus revelou-lhe o seu plano.

2. Noé constrói a arca (Génesis 6.14-16.22). Durante 120 anos (v.3) o patriarca trabalhou naquele imenso empreendimento, certamente a ouvir as zombarias dos seus contemporâneos. Estes não podiam crer na possibilidade de um dilúvio, pois tal coisa era contrária à própria natureza (Génesis 2.5, 6). Porém, a Bíblia afirma que “Noé, divinamente avisado das coisas que ainda se não viam, temeu, e para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé” (Hebreus 11.7).

3. Noé aguarda ordens de Deus (Génesis 6.22). A arca estava já terminada e Noé esperava, agora, ordens de Deus. Não vemos aqui nada de precipitação, mas fé “A fé” sabe esperar com paciência (Salmo 40.1), e não comete os erros de Israel, que não pode esperar por Moisés e caiu na idolatria (Êxodo 32.1-8), ou de Saul, que se impacientou com a demora de Samuel e acabou rejeitado por Deus (1 Samuel 13.8-14).

4. Noé e a sua família entram na arca (Génesis 7.1, 13). A ordem divina chegou e Noé e a sua família abrigaram-se dentro da arca, “e Deus o fechou por fora” (v.16). Isso significa plena segurança para os que estão dentro e eterna perdição para os que estão de fora. Noé não fechou a porta por dentro; Deus a fechou por fora! A segurança dos que estavam na arca não poderia ser obra do homem, mas de Deus. É Deus mesmo que encerra a porta por fora, ao revelar o seu especial cuidado para com os que haviam crido nele e obedecido à sua palavra. Noé creu e obedeceu. Nada se diz de sacrifícios oferecidos por Noé nos capítulos 6 e 7 de Génesis, certamente porque “o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1 Samuel 15.22). Isso não quer dizer que ele não adorava ao Senhor, pelo contrário, ele o fazia de modo perfeito através das obras da fé. A fé sem as obras é morta (Tiago 2.17).


III. O SIGNIFICADO ESPIRITUAL DA ARCA

1. As condições do mundo ante-diluviano (Mateus 24.37-39). Jesus, ao apontar como um sinal dos tempos os dias de Noé, afirma que as pessoas “comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento”. É evidente que nada de errado há nessas coisas, quando praticadas dentro das suas próprias limitações, tal como ensinou Jesus (Mateus 6.33). Mas, naqueles dias de Noé, a indiferença para com as exigências divinas era tão grande que só pensavam em seguir “o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Efésios 2.2).

Muitos, nos nossos dias, teimam ainda em anunciar um novo mundo criado pelas boas iniciativas humanas. Os teólogos da libertação e os adeptos do evangelho social, na sua distorcida compreensão do reino de Deus, planeiam alcançar as bem-aventuranças da Bíblia pelo esforço próprio. As palavras de Jesus cortam pela raiz todas essas vãs e ilusórias especulações, ao afirmarem que “assim será também a vinda do Filho do homem”.

2. A arca aponta para Cristo (1Pedro 3:18-22). Assim como a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, igualmente, hoje, a mesma longanimidade divina, a não querer que alguns se percam, espera que todos se arrependam (2Pedro 3.4). Foi essa longanimidade que salvou os ninivitas nos dias de Jonas.

Além do longo tempo de espera enquanto Noé construía a arca, Deus ainda esperou sete dias mais. Uma semana para que o mundo se arrependesse! Todavia continuaram a zombar de Noé e a rir da sua “loucura”! Desde que a arca da nossa salvação foi terminada na cruz, a sua porta ainda continua aberta para receber os crentes. É a porta da graça, que um dia será definitivamente fechada pelo próprio Deus. Em todo esse tempo, Cristo está a dizer: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim salvar-se-á” (João 10.9). O tempo para abrigar-se do juízo divino é hoje (Hebreus 3.7, 8). Amanhã pode ser muito tarde.


As águas do juízo divino não haveriam de atingir Noé e a sua família, mas fazê-los flutuar em segurança. Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo – a nossa Arca (Romanos 8.1). A mesma palavra que condena os de fora (João 12.48), salva os de dentro (João 10.28). Dentro da arca, misericórdia; fora da arca, a ira divina (João 3.36). A zombaria dos contemporâneos de Noé transformou-se logo em desespero, e o seu desprezo pelos avisos divinos terminou em pavor e destruição. Chegará o tempo de Deus mostrar a diferença que há entre aquele que o serve e o que não o serve. “Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que o não serve” (Malaquias 3.18).

A Corrupção do Género Humano


Após a morte de Abel, filho de Adão e Eva assassinado pelo seu irmão Caim, a Bíblia conta que o casal voltou a gerar uma criança. Eva deu à luz a Sete, que trouxe na sua genealogia grandes homens de Deus, como Noé, Abraão e Davi, culminando no nascimento do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Deus Vivo (Lucas 3:38). Caim também gerou filhos e filhas, que povoaram a Terra.

Entretanto, as Escrituras relatam que a terra encheu-se de violência, maldade e concupiscência carnal, com o pecado a manifestar-se abertamente no ser humano. Nos dias actuais, a degeneração humana não mudou; o mal continua a irromper desenfreado através da depravação, da imoralidade, da incredulidade, da pornografia e da violência, que dominam a sociedade inteira.

A ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça […] Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo o conhecimento de Deus, não o glorificam como Deus […] cheios de toda a injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem”. Romanos 2:18-32.

Deus revela-se já nesses primeiros capítulos da Bíblia como um Deus pessoal para com o ser humano, e que é passível de sentir emoção, desagrado e reacção contra o pecado deliberado e a rebelião da humanidade. Por causa do trágico pecado, Deus muda a Sua disposição em relação às pessoas; A Sua atitude de misericórdia e longanimidade passou à atitude de juízo.

A existência de Deus, o Seu carácter e os Seus eternos propósitos traçados permanecem imutáveis, porém Ele pode alterar o Seu tratamento para com o homem, dependendo da conduta deste. Deus altera, sim, os seus sentimentos, atitudes, actos e intenções, conforme as pessoas agem diante da Sua vontade.

Toda boa dádiva e todo o dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”. Tiago 1:17.

Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá. […] Mas se o perverso se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer o que é reto e justo, certamente viverá, não será morto”. Ezequiel 18:4 e 21.

“…E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros […] E, se alguém não foi achado no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”. Apocalipse 20:12 e 15.

Então, vemos em Génesis que a maldade do ser humano pesou no coração do Senhor, de maneira que teceu um julgamento perante a Terra: destruiria a todos, inclusive animais, excepto uma pessoa: Noé, pois era homem justo e recto perante a vontade do Pai.

Essa revelação de Deus como um Deus que pode sentir pesar e tristeza, deixa claro que Ele, em relação à Sua criação, age pessoalmente, como no recesso de uma família. Ele tem um amor intenso pelo ser humano. No meio da iniquidade e maldade generalizadas daqueles dias, Deus achou em Noé um homem que ainda buscava comunhão com Ele e que se mantinha distante da imoralidade ao seu redor. Essa rectidão de Noé era fruto da graça de Deus nele, por meio da sua fé e do seu andar com Deus.

A salvação no Novo Testamento é obtida exactamente da mesma maneira, mediante a graça e a misericórdia de Deus, recebidas pela fé, cuja eficácia conduz o crente a um esforço sincero para andar com o Senhor e permanecer separado da geração ímpia ao seu redor.

Hebreus 11:7 declara que Noé foi feito herdeiro da justiça, que é segundo a fé. O Novo Testamento também declara que ele não era somente justo, como também pregador da justiça. Nisso, ele é exemplo do que os pregadores devem ser.

Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé”. Hebreus 11:7.


Os filhos de Deus e as filhas dos homens

Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhe agradaram”. Génesis 6:1-2.

As genealogias de Caim e Sete são lembradas com esta passagem. Existem muitos conflitos a envolver este texto, um deles seria a expressão “os filhos de Deus”. A primeira grande controvérsia encontra-se no facto de alguns estudiosos acreditarem que esta designação estaria relacionada a anjos. Argumenta-se que os anjos caídos assumiram corpos físicos e vieram à terra para ter relações sexuais com belas mulheres, união da qual teriam nascido gigantes iníquos.

Ainda que tal interpretação possa ser defendida, a visão da maioria das igrejas evangélicas, entre elas a do Evangelho Quadrangular, acredita que os “filhos de Deus” sejam os descendentes piedosos de Sete. Estes homens escolheram as suas esposas não pela sua opção religiosa, mas por impulso. Através desta escolha errada, configurou-se numa vida devassa, e então houve a corrupção da humanidade. Deus reagiu com ira divina e Sua reacção em relação à sociedade aumentava de intensidade à medida que a corrupção se tornava dominante à escala universal.

A união destas duas linhagens gerou “Gigantes” ou “Nefilins”, entretanto este termo gigante é usado na Septuaginta. No texto original, no hebraico, o tamanho da pessoa nada tem a ver com o significado da palavra. O termo “Nefilim” significa, literalmente, “os caídos ou aqueles que caem sobre (atacam) os outros”, ou seja, eram pessoas malignas.

Sobre esta visão, argumenta-se que:

Em primeiro lugar, ao analisarmos o texto de Mateus 22:29-30, que diz:
Respondeu-lhes Jesus: Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Porque, na ressurreição, nem se casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos do céu”. Mateus 22:29-30.

Entendemos que as paixões e os apetites sexuais são especificamente manifestações do corpo humano e não dos anjos celestiais.

Em segundo lugar, não foi a união entre os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens” que nasceram os gigantes. Pelo contrário, eles já existiam antes desse acontecimento. Vejamos:
Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama”. Génesis 6:4.


Em terceiro lugar, caso esses “filhos de Deus” fossem anjos decaídos, seriam demónios e não mais “filhos de Deus”; logo, não poderiam ser considerados como tais. Enquanto que os descendentes de Sete “invocavam o nome do Senhor”, tal como o próprio Sete (Génesis 4:26), ou seja, possuíam comunhão com Deus, andavam com Deus, como Enoque (Génesis 5:29; 6:8) e obtiveram testemunho de que agradaram a Deus e se tornaram herdeiros da justiça, que é segundo a fé (Hebreus 11:5-7).