quinta-feira, 6 de abril de 2017

GÉNESIS - O Livro da Criação Divina

No princípio, criou Deus os céus e a terra” Génesis 1:1


GÉNESIS, O Livro das Origens

ESBOÇO DO LIVRO DE GÉNESIS

1) A Criação
Génesis 1:1 – 2:3

2) A Narrativa pré-patriarcal
a) História dos céus e da terra – 2:4 – 4:26
b) História de Adão – 5:1 – 6:8
c) História de Noé – 6:9 – 9:29
d) História de Sem, Cam e Jafé – 10:1 – 11:9
e) História de Sem – 11:10-26


3) Os Patriarcas na palestina: a formação do povo de Deus
a) História de Terá – 11:27 – 25:11
b) História de Ismael – 25:12-18
c) História de Isaque – 25:19 – 35:29
d) História de Esaú – 36:1-43

4) Os Patriarcas no Egipto: o inicio de facto da história do povo de Deus
a) A História de Jacó – 37:1 – 50:26

Como apresentado na tabela acima, o livro de Génesis divide-se em quatro partes principais: (1) a Criação; (2) a narrativa pré-patriarcal; (3) os patriarcas na Palestina; e 4) os patriarcas no Egipto. Os 50 capítulos de Génesis darão conta desse esboço, do desenvolvimento da história do povo de Deus.
Tecnicamente, pode-se dizer que o género literário predominante no livro de Génesis é o da narrativa. As narrativas variam entre antes e depois da Era do Patriarcado na Palestina. Esse género literário permite-nos perceber que as histórias ali narradas foram elaboradas de maneira a prender a atenção do leitor a ponto de levá-lo ao clímax da história: a saga do povo de Deus rumo à Terra Prometida.

A partir dessa percepção, podemos concluir o propósito do livro de Moisés: contar a maneira e motivo de o Deus de Israel escolher a família de Abraão e fazer uma eterna aliança com ela. Para os cristãos, essa aliança tem uma importância preponderante, pois foi a partir da aliança de Deus com Abraão que Jesus de Nazaré foi feito o Messias prometido: o Messias seria judeu, da família de Davi, descendente directo da casa de Abraão. De modo que também a Igreja de Cristo foi pensada sob a aliança estabelecida entre Deus e Abraão. Por isso, o apóstolo Paulo escreve convictamente: “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa” (Gálatas 3:28-29).
Portanto, há razão suficiente para dedicarmos-nos ao estudo do livro de Génesis. Ele apresenta o início da história da salvação. Em Génesis, somos convidados a compreender como começou a história do povo de Deus que culminou na revelação de Jesus Cristo, a fim de que hoje fôssemos alcançados pela graça de Deus em Cristo Jesus, o nosso Senhor.


INTRODUÇÃO

O Génesis fascina o espírito. Tudo nele é relevante, didáctico, profundo, belo e devocional. Até as suas genealogias trazem preciosas lições. Da criação do Universo à morte de José, percorre-se um caminho que, apesar das agruras e provas, conduz logo ao Criador. Em cada página, encontra-se um Deus que, não se limitando a criar, deleita-se em revelar-se à criatura.
Neste livro, aparecem os patriarcas. No Crescente Fértil, refaz-se as peregrinações desde a imponente Ur à rústica Betel. Das suas vitórias, compartilha-se. Que outro autor poderia descrever com tanta poesia o encontro de Jacó e Raquel? E a história de José? Não há quem não chore ao ler o drama do escravo hebreu que veio a governar o Império Egípcio. Em cada capítulo do Génesis, tem-se uma nova experiência com o Deus de Isaque e de Abraão. Iniciemos, pois, o nosso diálogo com uma literatura alta, rica e artisticamente bem trabalhada. Mas este não é o seu principal mérito. À semelhança dos demais livros da Bíblia Sagrada, o Génesis é a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus. Não veio à luz apenas para encantar-nos a estética, mas para encaminhar-nos à ética inigualável e perfeita do Criador.
Sem o livro de Génesis, as grandes perguntas da vida ainda estariam sem resposta.


I. A AUTORIA MOSAICA

O Génesis foi escrito por um dos homens mais sábios na história. Filho de Anrão e Joquebede, pertencia Moisés à casa de Levi, a mais conservadora das tribos hebreias (Êxodo 6:20; 32:26-28). A sua biografia é apontada por lances dramáticos e inexplicáveis. Ainda recém-nascido, foi preservado do infanticídio desencadeado pelo rei do Egipto, ao visar a eliminação do povo de Israel (Êxodo 2:1-10).
Providencialmente adoptado pela filha do Faraó, é levado ao palácio, onde recebe a educação mais esmerada da época (Actos 7:22). Homem feito, saiu a ver as agruras dos seus irmãos. E, na ânsia por ajudá-los, acaba por matar um egípcio. Vê-se, então, forçado a refugiar-se em Midiã. Nesse diminuto reino localizado ao norte da Arábia, entrega-se ao pastoreio do rebanho de Jetro, seu sogro (Êxodo 3:1). Ali, solitário e reflexivo, dispõe de espaço e tempo para meditar nos propósitos do Deus de Abraão. Que perguntas avivaram-lhe o espírito? E que indagações fez ao Eterno de Israel?
Deus utiliza o isolamento de Midiã, para trabalhar-lhe a personalidade. No Egipto, entre cativos e seus cobradores, jamais se teria desenvolvido espiritualmente. Foi no seu exílio, que Moisés inteira-se de uma invenção que revolucionaria a transmissão do conhecimento: o alfabeto. Surgido na região do Sinai, seria logo adoptado pela maioria dos povos.
Providencialmente, o Senhor impediu que a sua Palavra fosse escrita em caracteres egípcios, pois tanto o demótico, conhecido pelo povo, como o hieróglifo, dominado apenas pelos sacerdotes, não possuíam a plasticidade e a segurança necessárias para registar os inícios da História Sagrada.
Não sabemos em que período do seu ministério, Moisés escreveu o primeiro livro da Bíblia Sagrada. Mas podemos garantir que o Êxodo é uma sequência natural do Génesis, pois, no original hebraico, ambos os livros acham-se ligados por uma conjunção aditiva.

O Pentateuco é da autoria de Moisés – Êxodo 17:14; 24:4; Números 33:1-2; Deuteronómio 31:9; Josué 1:8; 2Reis 21:8.

Os escritores do Novo Testamento estão em concordância com os do Antigo Testamento pois falam dos cinco livros como “a lei de Moisés” (Actos 13:39; 15:5; Hebreus 10:28; 2Corintios 3:15). O próprio Jesus deu testemunho de que Moisés é o autor (João 5:46; Mateus 8:4; 19:8; Marcos 7:10; Lucas 16:31; 24:27-44).




II. DATA E LOCAL

Não é tarefa nada fácil precisar a data e o local em que Moisés escreveu o Génesis. Para não nos perdermos em especulações, algumas absurdas e outras impiamente vazias, adoptaremos a posição conservadora por ser a mais segura e racional.

1. Data. É-nos permitido afirmar que o primeiro livro da Bíblia foi redigido entre 1445 e 1405 antes da era cristã, durante a peregrinação de Israel pelo Sinai. Eleger qualquer outra época, como a dos pós-exílio babilónico, por exemplo, é atentar contra as evidências da própria Bíblia. Tanto os profetas quanto os apóstolos têm como certa a autoria mosaica de todo o Pentateuco, ao incluir o Génesis.
2. Local. Já que sabemos ter Moisés escrito o Génesis no século 15 antes de Cristo, concluímos que ele o redigiu no Sinai. Aliás, encontramos-lo em diversas ocasiões, durante a peregrinação de Israel pelo deserto, a registar as palavras do Senhor (Êxodo 24:4; Números 32:2 – Deuteronómio 31:9). Ao seu dispor, excelente material de escrita. Doutra forma, o livro jamais teria chegado às gerações futuras.

O tema central do livro de Génesis encontra-se no primeiro capítulo e versículo: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Génesis 1:1).


A História da Criação

A primeira coisa que chama a atenção do leitor da Bíblia é o laconismo (apenas dois capítulos) com que a história da Criação do mundo e da humanidade é contada. A aritmética de Génesis é impressionante. Somente dois capítulos são dedicados à história da Criação e um à entrada do pecado na raça humana. Por outro lado, treze capítulos são dedicados a Abraão, dez a Jacó e doze a José (que nem era um patriarca, nem um filho por meio do qual as promessas da aliança seriam perpetuadas). Ora, presenciamos o fenómeno de doze capítulos para José e apenas dois para a Criação. Seria impossível alguém ser, por assim dizer, seis vezes mais importante que o mundo?”


III. REIVINDICAÇÃO E TEMA.

Todos os livros da Bíblia possuem, além do tema central, uma reivindicação específica. Por isso, devemos ler a Palavra de Deus com atenção e cuidado, para não lhe ignorarmos as demandas.

1. Reivindicação. A principal reivindicação do Génesis é que creiamos ser Deus o Criador dos céus e da terra. Aliás, é a primeira verdade que nos expõe o autor sagrado (Génesis 1:1). Que nos curvemos humildemente, pois, à soberania divina. Ao aceitar semelhante demanda, confessa o salmista Etã: 'Teus são os céus, e tua é a terra; o mundo e a sua plenitude tu os fundaste” (Salmos 89:11). Quem lê o Génesis com devoção e amor, aceita de imediato a exigência divina. Sim, tudo pertence ao Senhor, inclusive você e eu. Aleluia!

2. Tema. O tema do Génesis faz-se acompanhar da sua reivindicação central: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Nesse livro, portanto, encontramos as origens dos céus, da terra, do ser humano, das nações e do povo de Israel. Acham-se nele, também, os esboços das doutrinas que professamos. O seu título, a propósito, significa exactamente isso: origem.

Um dos objectivos de Moisés ao escrever o livro de Génesis, era fortalecer a fé da geração do Êxodo ao mostrar que Deus é o grande criador dos céus, da Terra e do homem.


IV. OBJECTIVOS DO LIVRO.

Além de uma reivindicação específica e de um tema central, o Génesis foi escrito com, pelo menos, dois objectivos: fundamentar teológica e historicamente o êxodo hebreu e responder-nos às grandes perguntas da vida.

1. Fundamentar o êxodo hebreu. Os leitores, ou ouvintes, imediatos do Génesis foi a geração que o Senhor libertara do cativeiro egípcio. No momento mais crítico da sua história, era-lhes urgente saber três coisas essenciais. Antes de tudo, que o Jeová do Êxodo era o mesmo Elohim do Génesis. Logo, o Criador dos céus e da Terra não poderia deixar de apresentar-se como o Redentor do seu povo. Finalmente, o Deus que chamara Abraão a uma nova realidade espiritual, convocava-os, agora, a uma vida de liberdade numa terra boa, ampla e singularmente aprazível. Por isso, o Senhor se apresenta aos filhos de Israel como o El-shaday dos patriarcas (Génesis 17:1; Êxodo 6:3).
O primeiro objectivo do Génesis, portanto, era fundamentar teológica e historicamente os filhos de Israel, a fim de que assumissem a sua identidade como povo de Deus. Eles deveriam saber que a sua liberdade não era fruto de um movimento político, nem de uma convulsão social, mas o cumprimento das alianças que o Senhor estabelecera com Abraão, Isaque e Jacó. Aliás, o próprio José, pouco antes de morrer, profetizara, no Génesis, o Êxodo: “Eu morro; porém Deus certamente vos visitará e vos fará subir desta terra para a terra que jurou dar a Abraão, a Isaque e a Jacó”. Em seguida, José fez jurar os filhos de Israel, ao dizer: “Certamente Deus vos visitará, e fareis transportar os meus ossos daqui” (Génesis 50:24-25). Nas Sagradas Escrituras, todos os actos de Deus são bem fundamentados teológica e historicamente. O que aconteceu no Êxodo alicerça-se no Génesis. As alianças firmadas neste cumprem-se naquele. O mesmo podemos dizer com respeito à nossa salvação. O que teve início no primeiro livro da Bíblia plenifica-se no último.

2. Responder às grandes perguntas da vida. O Génesis foi escrito também para responder-nos às grandes perguntas da vida. Em primeiro lugar, todos ansiamos por saber como vieram a existir os Céus e a Terra. A segunda indagação, não menos importante, é acerca da nossa própria origem. Se não obtivermos as respostas certas, deixar-nos-emos aprisionar tanto pelas mitologias antigas como pelas modernas, que nos chegam diariamente travestidas de ciência.

Adão não tinha qualquer dúvida quanto à criação, pois conhecia pessoalmente o Criador. Mas os seus descendentes, por parte de Caim, logo endeusaram a criatura, ao permitir-se arrastar pelo sexo e por actos cada vez mais violentos. Sim, violência e sensualidade, os dois primeiros deuses da humanidade; daí, nasceram todos os ídolos.
Não demorou muito para que os filhos do próprio Sete caíssem nos mesmos pecados de Caim (Génesis 6:1-3). Se não fosse o piedoso Noé, toda a raça humana teria perecido no Dilúvio.

A era actual em nada difere daquela época, conforme afiança o Senhor Jesus: “Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mateus 24:37-39). Em consequência do pecado, o deus deste século não demorou a cegar e a perverter a mente da humanidade (2Corintios 4:4). E, assim, a narrativa que Adão e Noé transmitiram aos seus filhos acabou por degenerar-se em mitologias blasfemas e grosseiras. A família de Sem, através de Abraão, ainda manteria, por alguns séculos, a pureza do criacionismo.
Mas, já no tempo do Êxodo, a tradição oral já não era confiável. Por isso, o Senhor convoca Moisés não apenas para libertar Israel do Egipto, como também continuar, através da palavra escrita, a verdade sobre os inícios de todas as coisas.

Ao ter em vista a pureza do Génesis, rejeitamos a hipótese de que o autor sagrado foi buscar partes nas mitologias babilónicas para redigir o primeiro livro da Bíblia. Supervisionado pelo Espírito Santo, seleccionou os registos mantidos pelos hebreus, ao depurar a tradição oral da criação que o seu povo ainda conservava. E claro que, nessa tarefa, ele contou igualmente com a revelação divina. De modo que, hoje, temos um texto confiável, lógico e coerente. Não temos qualquer dúvida quanto à inspiração divina do Génesis, que compreendeu tanto a iluminação como a supervisão do Espírito Santo.
Moisés foi chamado por Deus no momento mais crítico da história de Israel, pois Faraó estava prestes a exterminar os hebreus. E, com eles, perder-se-iam a narrativa da criação e os registos genealógicos que nos remetem a Adão e ao próprio Deus (Lucas 3:38). Além disso, a linhagem do Messias também seria destruída, ao tornar inviável o advento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Não há como moderar a importância de Moisés na História Sagrada. O seu óbito, anexado ao Deuteronómio, faz jus à sua biografia; “Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face, no tocante a todos os sinais e maravilhas que, por mando do SENHOR, fez na terra do Egipto, a Faraó, a todos os seus oficiais e a toda a sua terra, e no tocante a todas as obras de sua poderosa mão e aos grandes e terríveis feitos que operou Moisés à vista de todo o Israel” (Deuteronómio 34:10-12).
Bastava o Génesis para que Moisés se imortalizasse. Mas a sua obra não parou aí; transcendeu, ao fazer-se eterna séculos mais tarde, vamos encontrá-lo no Monte da Transfiguração. Ali, juntamente com Elias, conferenciava com o verbo de Deus acerca do momento maior da História Sagrada: a expiação da humanidade no Calvário. A profecia de Génesis 3:15 cumpria-se plenamente.
Podemos encontrar no livro de Génesis temas como a Criação; Queda e a degradação humana; o dilúvio; o recomeço da civilização e a origem da nação de Israel.


V. GÉNERO LITERÁRIO.

Ao contrário de Homero, legou-nos Moisés uma origem do mundo altamente confiável. Se o primeiro dispôs apenas do engenho humano, o segundo foi assistido pelo Espírito Santo, que o inspirou, ao dirigi-lo em toda a redacção da obra. Na composição do livro de Génesis, por conseguinte, Deus providenciou todos os detalhes para que tivéssemos uma obra que não erra e infalível: alfabeto, língua, género literário e estilo.


1. Alfabeto. Conforme já dissemos, o Senhor impediu que os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas fossem escritos nos caracteres egípcios. Se isso tivesse ocorrido, o Pentateuco teria desaparecido já nas décadas seguintes, pois somente a elite cultural egípcia, da qual Moisés fazia parte, era capaz de dominá-los. Além do mais, a escrita ideográfica do Nilo estava fadada a desaparecer. Haja vista que, no período do Novo Testamento, os hieróglifos já haviam sido substituídos, em todo o Egipto, pelos alfabetos grego e latino. Dezoito séculos mais tarde, o francês Jean-François Champollion (1790-1832) enfrentaria dificuldades, a fim de resgatar o sentido daqueles signos linguísticos. Por esse motivo, Deus isolou Moisés por quarenta anos em Midiã, para que o seu servo aprendesse o alfabeto sinaítico. Através dessa invenção maravilhosa, ele teria condições de transmitir às gerações futuras os inícios da História Sagrada. Embora não se saiba quem de facto criou a linguagem alfabética, o certo é que ela veio a ser assimilada rapidamente pelos hebreus, fenícios, gregos e latinos. Destes, veio a ser adoptada pela maioria das línguas modernas.
Durante o cativeiro babilónico, os escribas judeus houveram por bem substituir o alfabeto sinaítico pelo ashurith, conhecido também como quadrático devido à sua forma rectangular. E, a partir do século 6º da nossa era, apareceram os massoretas, cujo principal trabalho foi a vocalização do texto original hebraico, para que este não acabasse por perder a sua pureza fonética.


2. Língua. Entre os idiomas antigos, parece que o hebraico seria o mais perfeito. Simples e poético, apresenta uma gramática descomplicada e logo assimilável. É claro que, no decorrer do Antigo Testamento, os livros do Pentateuco foram submetidos a vários processos editoriais. Mas todas essas intervenções foram orientadas e supervisionadas pelo Espírito Santo, ao visar preservar a integridade do texto sagrado.

3. Género literário. Embora haja poesias e até hinos no Génesis, o livro não é uma obra poética. Diferentemente de Homero, utiliza Moisés a narrativa histórica para registar os começos do Céu, da Terra, da humanidade e do povo hebreu. A História da Criação seria, séculos depois, salmodiada pelos cantores de Israel. Mas, quando da redacção do Génesis, o Senhor levou Moisés a utilizar um género literário adequado à historiografia sagrada, ao realçar a credibilidade do primeiro livro da Bíblia.

4. Estilo. Se o estilo é de facto o homem, em todo o Génesis vemos a mão de Deus em tudo o que Moisés escreveu. Historiador sagrado, foi belo e poético em cada frase e oração. Até pequenas sentenças, como esta, adquirem beleza e ternura em sua pena: “Haja luz” (Génesis 1:3). A História de José é outro exemplo da excelência literária do autor sagrado. Quem consegue lê-la sem lacrimejar? Enfim, o Génesis é tão belo e singular que só podia ser divino. Escrito há mais de três mil e quinhentos anos, continua a encantar crianças, adolescentes, adultos e anciãos. O primeiro livro da Bíblia Sagrada, portanto, é uma história real, não uma parábola, nem uma colecção de metáforas, como sugerem os liberais e inimigos da Palavra de Deus. Se o interpretarmos doutra forma, jamais poderemos aceitar, como verdade, a História da Redenção.


SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

Sete características principais assinalam o Génesis.
(1) Foi o primeiro livro da Bíblia a ser escrito (com possível excepção de Jó) e regista o começo da humanidade, do pecado, do povo hebreu e da redenção.
(2) A história contida no Génesis abrange um período de tempo, maior que o restante da Bíblia, e começa com o primeiro casal humano; dilata-se, ao abranger o mundo ante-diluviano, e a seguir limita-se à história do povo hebreu, o qual semelhante a uma corrente, conduz à redenção até ao final do Antigo Testamento.
(3) O Génesis revela que o universo material e a vida na terra são categoricamente obra de Deus, e não um processo independente da natureza. Cinquenta vezes nos capítulos 1-2, Deus é o sujeito de verbos que demonstram o que Ele fez como Criador.
(4) O Génesis é o livro das primeiras coisas – a primeira família, o primeiro nascimento, o primeiro pecado, o primeiro homicídio, o primeiro polígamo, os primeiros instrumentos musicais, a primeira promessa de redenção, e assim por diante.
(5) O concerto de Deus com Abraão, que começou com a chamada deste (Génesis 12:1-3), foi formalizado no capítulo 15, e validado no capítulo 17, e é da máxima importância em toda a Bíblia.
(6) Somente o Génesis explica a origem das doze tribos de Israel.
(7) Revela como os descendentes de Abraão, por fim, se fixam no Egipto (durante 430 anos) e assim preparam o caminho para o êxodo, o evento central do Antigo Testamento.


VI. CONTEÚDO.

O Génesis pode ser dividido em duas grandes secções: a História Primitiva e a História de Israel.
1. A História Primitiva. Conhecida também como História Primeva, a História Primitiva ocupa-se dos primeiros dois milénios da estadia do homem na Terra, ao abranger os primeiros onze capítulos do livro: da Criação à Torre de Babel. De forma sintética, mas profundamente clara, a Palavra de Deus mostra como vieram a existir o Céu, a Terra, os animais e o homem. Narra também a ocorrência do Dilúvio e o evento da Torre de Babel, ao revelar como originou-se a diversidade cultural da humanidade.

2. A História de Israel. A partir do capítulo 12, tem início a História de Israel. É uma narrativa soteriológica (Relativo a soteriologia, doutrina da salvação realizada por Jesus) das biografias dos três grandes patriarcas da nação hebraica: Abraão, Isaque e Jacó. O relato é encerrado com a ascensão providencial de José ao governo egípcio. Nessa secção, Deus estabelece as suas alianças com os pais da família hebraica. De um lado, promete-lhes que os protegerá nas suas peregrinações até introduzi-los na terra de Canaã. Do outro, os hebreus se comprometem a guardar-lhe os mandamentos e devotar-lhe uma adoração exclusiva e única. Todos fomos chamados a uma vida perfeita diante de El Shaday (Génesis 17:1).


CONCLUSÃO.

Como nos sairíamos sem o Génesis? Ainda estaríamos presos às mitologias babilónicas, indianas e gregas. Sem ele, jamais poderíamos libertar-nos dos mitos pós-modernos, que nos chegam todos os dias como verdade e ciência. Enfim, sem as verdades do Génesis, jamais teríamos alcançado a liberdade em Cristo, pois a doutrina da salvação tem, no primeiro livro da Bíblia Sagrada, a sua génese. Por isso, agradeçamos a Deus por nos haver providenciado uma porção tão indispensável e bela da sua inspirada e inerrante Palavra. Quanto mais tempo passar, mais constataremos a exactidão da obra que nos legou Moisés.
Devemos ler o Génesis com a nossa família. No culto doméstico, devemos abrir a Bíblia neste livro e estudá-lo metódica e sistematicamente. Assim, impediremos que os nossos pequeninos sejam vítimas dos falsos postulados científicos como a Teoria do Big Bang e o Evolucionismo.


Na proclamação do Evangelho, faz-se necessária a evocação de três verdades que se acham no Génesis: 1) Deus criou os céus, a terra e o homem; 2) Em Adão, todos pecamos, tornando-nos réus da morte eterna; 3) Entretanto, Deus providenciou-nos eficaz salvação através da semente da mulher: Jesus Cristo, nosso Salvador.

A leitura do Génesis nunca se fez tão necessária como nos dias de hoje. As nossas crianças precisam saber quem fez todas as coisas. O que eles vêem não é obra do acaso; é criação divina. Se não formos precavidos, doutrinas fúteis, como o evolucionismo, lhes roubarão a fé salvadora.



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