terça-feira, 11 de abril de 2017

Bem e Mal - Quem Decide?


Deus criou o homem e o colocou no jardim do Éden. Cercado de abundante e maravilhoso esplendor verde, num complemento perfeito.

Havia também duas árvores excepcionais que foram plantadas no jardim, a Árvore da vida, e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

Deus incentivou o homem a comer de todos os frutos do jardim, mas especificamente, com instruções claras, proíbe Adão de comer do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal.

Enganada pela serpente, Eva comeu do fruto proibido e convenceu Adão a fazer o mesmo. Adão e Eva foram punidos e expulsos do jardim.

Há muitas questões que envolvem a natureza do fruto proibido, e o que ele representaria na história da queda do homem. É difícil e ao mesmo tempo intrigante, saber o motivo da proibição aos primeiros seres humanos, da aquisição do conhecimento do bem e do mal.

Afinal de contas, que tipo de conhecimento estava associado com a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal? Quais as razões que Deus teria para conservar este conhecimento restrito ao Seu domínio?

Abravanel (1437 – 1508), filósofo, judeu Português, comentarista da Torah, dizia que o conhecimento representado pelo fruto proibido, nada tinha a ver com o conhecimento básico da moralidade. O conhecimento moral, insistia ele, é essencial para que existisse liberdade de escolha, por isso já fazia parte da consciência humana desde a sua criação.

Abravanel sugeria que o fruto da Árvore estava em íntima conexão com a busca pelo prazer físico e ganho material. Quando Adão e Eva comem da Árvore, eles deixam a missão original que Deus lhes havia dado.

Eles deixam para trás a busca pela perfeição espiritual e lançam-se num mundo imerso no materialismo. De acordo com Abravanel, a narrativa bíblica sobre a desobediência de Adão e Eva, nos exorta a mantermos a perspectiva correta nas nossas vidas, ao resistir às tentações do mundo físico, e ao dedicar-mo-nos a uma profunda busca pelo que é espiritual.

Ao seguir os passos de Abravanel, Malbim, Rabino Russo (1809 – 1879), traz um fascinante e novo entendimento deste texto bíblico. Segundo Malbim, o homem é constituído de alma e corpo. A alma era para ser a parte central do ser humano, enquanto que o corpo servia como a “vestimenta” da alma, ao permitir a sua expressão no mundo físico.

Quando Adão e Eva comem da Árvore Proibida, eles fazem com que o corpo assuma a parte central do ser. Depois de terem pecado, a Torah conta que Adão e Eva reconhecem que fisicamente estavam nús. Agora, o corpo, que originalmente era a “roupa” da alma, precisa ele mesmo de ser vestido.



Maimônides, no seu livro Guide to the Perplexed (Guia para os Perplexos), demonstra uma outra abordagem para esta história, cheia de significados. Ele sugere que antes do pecado, o homem existia inserido no domínio do “Verdadeiro ou Falso”. Depois do pecado, o homem entra para o reino do “bem e do mal”.

E há uma grande diferença entre esses dois mundos. Isso porque “Verdadeiro ou Falso” são termos objectivos, directos. Já o “Bem e o Mal”, podem ser entendidos como fenómenos subjectivos, de classificação relativa à opinião de quem os julgam.

Quando Deus planta a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, e põe o homem no jardim e o instruí sobre a proibição de comer do seu fruto, era como se Ele estivesse a dizer para Adão: “A tua tarefa é seguir a minha vontade. O definir o que é bom e o que é mau permanece como minha prerrogativa. Eu vou determinar o que é certo e o que é errado.”

Da mesma forma, a tentação da serpente à Eva, em outras palavras seria “Se comeres desta Árvore, tu serás como Deus. Tu decidirás o que é bom e o que é mau.”

E daquele momento em diante, uma batalha se inicia, e que de várias maneiras se ajusta com o destino da história da raça humana. Com isto a partir daí, a humanidade julgaria o bem e o mal? Objectivamente ou subjectivamente?

As sociedades humanas têm o direito de determinar o que seria “bom” e o que seria “mau”, ao usar para isso os seus próprios parâmetros?

Vamos pensar, mesmo que por apenas um momento, numa sociedade do mundo antigo. E essa sociedade, conclui que os recém-nascidos que forem considerados fracos devem ser mortos, pois eles não contribuiriam para o desenvolvimento da comunidade e ainda iriam demandar muitos dos seus preciosos recursos.

Essa determinação seria moral ou não, dentro do que eles julgam como bem e mal?
Se nós aceitarmos que cada sociedade tem o direito de determinar sobre ela mesma o que seria considerado moral ou não, e de decidir o que seria bem e mal, dentro do contexto da sua compreensão filosófica, então a verdadeira moralidade deixaria de existir.

Se não houver um padrão objectivo do que é o certo e o errado, do que é o bem e o mal, então tudo se tornará subjectivo, objecto da aceitação das sociedades, algo que vai mudando de tempos a tempos. O que era imoral no passado, não será mais no futuro e assim por diante.

Mas esta passagem do Génesis transmite-nos a mensagem de que a moralidade objetiva e real foi mandada e definida por Deus, desde a criação no princípio. Deus cria a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e proíbe que o homem coma do seu fruto. O que Ele queria dizer com isto?

Deus estava a lembrar a Adão e Eva, e a todos os seus descendentes, que a determinação do que é bem e mal, do certo e do errado, é uma prerrogativa divina. Deus é quem decide sobre o que é moral e o que é imoral. E isto deve permanecer sob o Seu controle.

O problema surge, quando no jardim do Éden, ou através dos tempos, nós usurpámos tomar de Deus esta prerrogativa.

Há um caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte.” Provérbios 16:25.

Quanta tristeza vem sendo causada, por toda a trajectória humana, justamente porque nós temos invocado o direito de definir o bem e o mal.


  • Não terás outros deuses diante de mim.” Êxodo 20:3
  • Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.” Êxodo 20:4
  • Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.” Êxodo 20:7
  • Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.” Êxodo 20:8-9
  • Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus te dá.” Êxodo 20:12
  • Não matarás.” Êxodo 20:13
  • Não adulterarás.” Êxodo 20:14
  • Não furtarás.” Êxodo 20:15
  • Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” Êxodo 20:16
  • Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” Êxodo 20:17

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